sábado, 23 de março de 2013

513 anos de despejos

Cabral. O Sérgio, não o Pedro Álvares. Quis o destino (coincidência, talvez) que este sobrenome estivesse presente em mais um dos inúmeros casos de descasos com os povos indígenas. O genial Carlos Latuff retrata perfeitamente o caso em sua charge (figura abaixo), em que um policial altamente equipado com "equipamentos de proteção especial" (e de cara feia, diga-se) encara um índio, também altamente equipado com suas armas letais: um colar e um cocar. A charge mostra muito claramente a desproporção entre força policial e "força" indígena...





Não preciso falar do absurdo de despejo com ordem judicial imposto aos índios da tribo Guarani-Kaiowá. Para um resumo deste caso de grande repercussão, 
"A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis Caiovás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão" Eliana Brum, revista Época
O caso da expulsão dos índios de um prédio abandonado, nesta última sexta-feira, 22 de Março de 2013, no Rio de Janeiro, tem de mais grave o desprezo pelas raízes indígenas da nação, pelos antepassados, pela sua própria história. Com mais este ato repugnante, o Estado brasileiro assina mais um de incontáveis atestados de incompetência de cumprir a Constituição de 1988. Por fim, acho que é importante frizar (se bem que, não fez a menor importância para o governador Sérgio Cabral), que o prédio abandonado abrigava o museu do índio. A reintegração de posse foi, então, o encerramento com chave de ouro do descaso "Aldeia Maracanã"...(engraçado, esse nome reintegração. Não se aplica, ao bem da verdade. Afinal, ao menos moralmente, o museu pertencia ao povo indígena. Continuará pertencendo...).

Assistindo as imagens na televisão, logo me veio à mente a narração de uma carta do índio Guaicaipuro Cuatemoc, por Antônio Abujamra, no Programa Provocações da TV Cultura (vídeo abaixo). A carta mais parece um poema. Algo fascinante, pela verdade, pela intensidade, pelo sentimento aflorado pelas palavras escritas e pela narração.