sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Censura Escondida


Para algumas pessoas pode ser novidade que grande parte dos órgãos de imprensa é controlada por um extremamente restrito número de empresários. Os maiores barões da mídia são reconhecidamente a família Frias, do Grupo Folha, os Civitta, e os Marinho, esse último o maior e mais influente de todos. Estes grupos são responsáveis pela publicação do jornal Folha de São Paulo, pela editora Abril (entre as publicações, a revista Veja), e pela rede Globo de televisão, respectivamente. Edir Macedo, dono da Record, Silvio Santos, dono do SBT, e os Saad, da rede Bandeirantes, também podem ser citados.

Pois bem. Estes grupos, apesar de serem concessões públicas e receberem milhões de verbas públicas, prestam um desserviço indecente ao povo brasileiro. Não representam, em hipótese absolutamente nenhuma, os interesses do povo. Manipulam e distorcem informações, mentem, promovem o escárnio da política nacional e, pasmem, falam que a liberdade de expressão corre risco no Brasil e que esta deve ser mantida. Ou seja, o sistema brutalmente desigual no ramo das comunicações deve ser mantido. O medo ronda estes grupos: o clamor social pela democratização dos meios de comunicação, um dos mais monopolizados do mundo.

Esta falácia promovida pelos oligopólios da comunicação se faz (e já há muito tempo) concomitantemente com a censura clara a veículos de informação, digamos, alternativos. Uma censura pelo bolso. O jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada e da rede Record, sofre uma toneladade processos de Ali Kamel, Gilmar Mendes, Daniel Dantas, e tanto outros. Como veículos de comunicação que representam “formigas” comparados aos oligopólios midiáticos podem pagar os honorários vultosos dos advogados? Luis Nassif, outro jornalista e blogueiro, ganhou direito de resposta na revista Veja, após insultos desmedidos de uma revista que já foi chamada de “revista de fofoca”. Nem essa classificação merece. No caso mais recente, Luis Carlos Azenha foi processado e derrotado na justiça  (em 1ª estância) pelo diretor de jornalismo e de esportes da rede Globo, Ali kamel. Valor da multa: 30 mil reais. Um baque para os poucos, mas bravos, que lutam pela democratização das comunicações no país. Azenha havia decidido fechar seu site, o Viomundo, através do qual faz suas denúncias contundentes e, diga-se, verídicas contra os barões da mídia. Ainda bem, ele desistiu da ideia. A página passará por reformulações, mas se manterá fornecendo informação de altíssima qualidade ao povo brasileiro.

Entre vitórias e derrotas, os blogueiros, conhecidos como progressistas, vão se mantendo. No entanto, o problema vem da raiz. O Governo Federal, através de sua secretaria de comunicação - Secom, repassa verbas aos veículos de informação (vale lembrar que os meios de comunicação recebem concessão pública para atuar). Uma das características mais relevantes da Secom seria garantir a proporcionalidade na distribuição destes recursos e, assim, garantir a pluralidade da informação. A Secom segue rigorosamente essa proporcionalidade, so que ao contrário. Além de reforçar o monopólio no setor das comunicações, a atual distribuição de recursos parece não respeitar a proporcionalidade

"Do total de R$161 milhões pagos aos meios de comunicação, durante o governo Dilma, com base nos cálculos de audiência a que se refere a ministra Chagas, R$ 112,7 milhões couberam a apenas 10 empresas, enquanto as demais dividiram os R$ 48,3 milhões restantes. O Correio do Brasil, embora apresente níveis de audiência e de leitura superiores à maioria dos veículos de comunicação, inclusive no "Grupo dos 10", segundo auditorias internacionais, foi marcado por sua independência editorial e não integra sequer a lista dos 3 mil veículos de comunicação beneficiados com os recursos públicos". Destes R$ 161 milhões, as organizações Globo abocanharam um terço (R$ 52 milhões).

O curioso é que são estes grupos que atacam o governo. Atacam, na verdade, diretamente o PT. Não sou petista e nem tenho pretensão em ser, mas a democratização da mídia é fundamental para uma democracia saudável, coisa que eu, com meu escasso conhecimento, não acredito que seja algo desfrutado por brasileiros. Não ainda. O problema é que boa parte dos políticos brasileiros são donos ou fortemente ligados a empresas das comunicações. Claro, a base aliada não foge a isso. Mesmo tendo sido aprovado por seu diretório nacional, o PT não tem forças para iniciar uma campanha dentro do governo pela regulamentação da mídia. O partido conta com apenas 17% do congresso. O ministro das telecomunicações, Paulo Bernardo, que é do PT, parece não querer colaborar. Virou fantoche? Depois de ter sido pressionado por Rui Falcão, atual presidente do PT, voltou atrás em suas declarações. 

O ministro das comunicações no governo Lula, Franklin Martins, esboçou uma regulamentação da mídia. De acordo com "Stanley Burburinho", no facebook, o plano não contava com, sequer, uma linha a mais do que diz a Constituição de 1988. Como disse Rodrigo Vianna, a regulamentação deve ser algo que ganhe força com a mobilização dos movimentos sociais.

sábado, 23 de março de 2013

513 anos de despejos

Cabral. O Sérgio, não o Pedro Álvares. Quis o destino (coincidência, talvez) que este sobrenome estivesse presente em mais um dos inúmeros casos de descasos com os povos indígenas. O genial Carlos Latuff retrata perfeitamente o caso em sua charge (figura abaixo), em que um policial altamente equipado com "equipamentos de proteção especial" (e de cara feia, diga-se) encara um índio, também altamente equipado com suas armas letais: um colar e um cocar. A charge mostra muito claramente a desproporção entre força policial e "força" indígena...





Não preciso falar do absurdo de despejo com ordem judicial imposto aos índios da tribo Guarani-Kaiowá. Para um resumo deste caso de grande repercussão, 
"A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis Caiovás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão" Eliana Brum, revista Época
O caso da expulsão dos índios de um prédio abandonado, nesta última sexta-feira, 22 de Março de 2013, no Rio de Janeiro, tem de mais grave o desprezo pelas raízes indígenas da nação, pelos antepassados, pela sua própria história. Com mais este ato repugnante, o Estado brasileiro assina mais um de incontáveis atestados de incompetência de cumprir a Constituição de 1988. Por fim, acho que é importante frizar (se bem que, não fez a menor importância para o governador Sérgio Cabral), que o prédio abandonado abrigava o museu do índio. A reintegração de posse foi, então, o encerramento com chave de ouro do descaso "Aldeia Maracanã"...(engraçado, esse nome reintegração. Não se aplica, ao bem da verdade. Afinal, ao menos moralmente, o museu pertencia ao povo indígena. Continuará pertencendo...).

Assistindo as imagens na televisão, logo me veio à mente a narração de uma carta do índio Guaicaipuro Cuatemoc, por Antônio Abujamra, no Programa Provocações da TV Cultura (vídeo abaixo). A carta mais parece um poema. Algo fascinante, pela verdade, pela intensidade, pelo sentimento aflorado pelas palavras escritas e pela narração.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

No quintal da minha casa também falta ética na ciência


Em meio à gravíssima denúncia de fraude em 11 artigos científicos publicados em periódicos da Elsevier (isso quer dizer altíssimo nível!!!), por um professor da UNICAMP, quero expor mais um caso medíocre no meio científico do país, esse no quintal da minha casa. Fui orientado a não citar nomes, infelizmente. Usarei pseudônimos.
O professor F.D.P (qualquer semelhança com algum palavrão não é mera coincidência), reclamou ao colegiado do curso a falta de ética dos orientadores de uma aluna que, em sua participação em um congresso científico, colocou uma foto na qual FDP aparecia. “Não autorizei o uso de minha imagem”. Ficaria caracterizado uso indevido de imagem se o referido professor não estivesse de costas para a fotógrafa. Isso mesmo!De costas!!
O trabalho apresentado fez parte de um projeto no qual FDP participou “ativamente” nos dois meses em que foi responsável por seu andamento. Com ativamente eu quero dizer uma coleta! E com uma coleta, UMA COLETA! Ao assumir um cargo público, FDP teve que abdicar do projeto, ficando este sobre responsabilidade de Chapeuzinho Vermelho pelos dois anos subsequentes.
Não satisfeito com sua tamanha mediocridade, FDP reclamou o “direito” de ser co-autor do artigo a ser publicado com os dados referentes ao projeto. Chapeuzinho Vermelho, então, disse que cederia o material biológico e os dados, ou “se você preferir coloco seu nome no artigo”. FDP, esperto que é, preferiu a segunda opção. Afinal, publicar é o que importa. Meios escusos são aceitáveis. Tudo em nome de publicar, publicar, publicar...
Fiquei muito triste com isso. Mais triste que revoltado. O fato é extremamente grave e, não sei se por lei, mas passível de perda do cargo público que ele assumiu. Esse FDP representa aquilo que devemos combater incansavelmente: falta de ética. Na ciência, por sua alta importância para a sociedade, a máxima do “Critical thinking is...hatred for every kind of imposture”, de Francis Bacon, deveria ser levada em consideração. Mas há a corja que imoralmente não possui tais princípios. Por fim, resumindo tudo em uma palavra: LAMENTÁVEL.
Esta “Comédia da Vida Privada” terá mais um capítulo, talvez não tão ridículo e deprimente como este.